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“Time is Brain”: O tratamento agudo tempo-dependente do AVC

A expressão “Time is Brain” (Tempo é Cérebro) foi cunhada há vários anos para explicar, de forma simples e rápida, a importância de se identificar um AVC e buscar rapidamente uma emergência para que o melhor tratamento possa ser realizado.

Várias condições clínicas quando tratadas precoce e rapidamente apresentam resultados melhores. No entanto, no caso do AVC, essa premissa é tão importante que possuímos tempos específicos para tratamento conforme protocolos internacionais, visando sempre o melhor desfecho para o paciente.

O Acidente Vascular Cerebral (AVC), também conhecido como “Acidente Vascular Encefálico – AVE” ou “Derrame“, acontece quando há entupimento (isquemia – AVCi) ou sangramento (hemorragia – AVCh) de alguma artéria no Cérebro. A diferenciação entre um e outro só pode ser realizada após exames de imagem, como tomografia ou ressonância magnética, já que os sintomas são os mesmos e aparecem subitamente, incluindo:

  • Fraqueza de um lado do corpo;
  • Formigamento de um lado do corpo;
  • Assimetria da face, com predomínio do “andar inferior” (lábios e bochecha)
  • Dificuldade de falar, seja pela dificuldade de articular a palavra ou de compreender o que é dito;
  • Tontura súbita que não cessa;
  • Incoordenação de movimentos;
  • Dificuldade de verter o olhar (virar os olhos);
  • Outros sintomas menos comuns: Confusão mental, Desmaio, Não reconhecer parte do corpo, etc.

Neste artigo focaremos no AVCi, que representa até 85% dos AVC. O primeiro estudo que mostrou algum Tratamento Agudo (aquele que é feito durante os momentos iniciais do AVCi para evitar a piora do quadro) eficaz para o paciente com AVCi comprovou que só há benefício quando o tratamento é instituído nas primeiras 3 horas do inícios dos sintomas (Estudo NINDS-2, em 1995). Quando passado esse tempo, o risco da medicação trazer mais riscos que benefícios é grande.

Posteriormente, um novo estudo conseguiu fazer com que a janela de tratamento se expandisse para 4 horas e 30 minutos do início dos sintomas (Estudo ECASS 3, em 2008), mas não para todos os pacientes, já que a inclusão dos pacientes passa a ser ainda mais restrita.

Somente em 2015 novos estudos conseguiram provar que uma nova terapêutica para o AVCi agudo poderia ser viável, mas ainda assim bastante dependente do tempo do início dos sintomas, do padrão e gravidade do quadro, da extensão do AVCi e de comorbidades pregressas do paciente (Estudos ESCAPE, EXTEND-IA, SWIFT PRIME e MR CLEAN, de 2015), expandindo a janela de tratamento para até 24 horas em situações bastante específicas.

Mas por que o tratamento é tão dependente do tempo de início dos sintomas? Após o entupimento, o cérebro começa a perder neurônios por incapacidade de manter a oxigenação, e isto é bastante rápido. A parte do cérebro que sofre no processo fica bastante friável, com risco de apresentar sangramento (AVCi com Transformação Hemorrágica) e os procedimentos que são realizados para o tratamento agudo do AVCi possuem como risco a evolução com sangramento, de modo que o paciente e o neurologista têm que pesar riscos e benefícios antes da tomada de decisão. Quanto mais tempo passa, maiores são os riscos relacionados a sangramento e menores são as opções terapêuticas.

Em um futuro não tão distante, o paradigma do tempo do início dos sintomas será cada vez mais amenizado, com novas terapêuticas sendo capazes de mitigar os riscos e aumentar os benefícios. No entanto até este dia chegar, a qualquer sinal de que uma pessoa esteja tendo um AVC busque a emergência mais próxima o mais rápido possível, para que o melhor tratamento possa ser instituído, diminuindo sequelas e melhorando o desfecho clínico.