Dor é uma variável tão importante na medicina moderna que há muito tempo já é considerada um parâmetro de sinal vital, junto com pressão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória e temperatura. Além da dor, existem vários outros aspectos que não podem ser negligenciados por quem sente dor, convive com quem sente dor ou avalia a pessoa com dor.
Que a dor influi diretamente no bem estar do indivíduo não há dúvidas, mas em quem sofre de Dor Crônica, não se pode deixar de avaliar os aspectos psicológicos que estão agregados ao problema.
Antes de mais nada é importante definir a “Dor Crônica“, cuja classificação se dá quando a dor dura por mais de 3 a 6 meses. Dentre as dores crônicas mais prevalentes no mundo estão a “Dor Lombar Baixa“, famosa dor na coluna, a “Dor de Cabeça” e a “Dor no Pescoço“.
Mas que Aspectos Psicológicos são estes? Em resumo, pode-se agregá-los em 5 categorias: Depressão, Ansiedade, Enfrentamento da Dor, Catastrofização e Nível de aceitação de dor.
Depressão: O Transtorno Depressivo é a principal alteração mental associada a Dor Crônica e é capaz de gerar menor resposta analgésica e menor tolerância a dor a longo prazo. Para piorar, O Transtorno Depressivo e a Dor Crônica possuem uma relação bidirecional: A dor leva à depressão e a depressão leva à dor. Junte a isso o fato de a pessoa ter menos vontade e prazer ao realizar atividades costumeiras, ter um humor diminuído e maior sentimento de cansaço e melancolia.
Ansiedade: A prevalência de Transtorno de Ansiedade em pacientes com Dor Crônica pode ser quase o dobro que em pessoas sem a condição. Ansiedade relacionada a Dor Crônica leva muitas pessoas a evitar atividades que podem exacerbar a dor, afeta diretamente a cognição e as experiências afetivas. O fato do indivíduo evitar algumas atividades tanto pela ansiedade quanto pela dor acaba levando a um ciclo vicioso em que não se consegue sair do quadro de dor crônica, servindo como alça retroalimentadora de todo o processo.
Enfrentamento da Dor: “Enfretamento” são esforços cognitivos e comportamentais para lidar com situações do nosso cotidiano quando não temos uma resposta automática ou baseada na rotina. Por exemplo, ao receber uma notícia inesperada, podemos agir de diversas formas diferentes (mais racional ou emocional, não querer acreditar, agir de forma a negar a existência do problema, etc). No caso do paciente com Dor Crônica, observa-se uma mudança de padrão de Enfrentamento em alguns pacientes, uns com maior chance de evoluir com adaptação (aceitar a dor e aprender a conviver com algo ruim), stress emocional (não ser mais capaz de interpretar emoções adequadamente em vigência da dor) e apresentação de déficits funcionais (ser incapaz de realizar atividades que antes lhe eram simples por alterações além da dor, por exemplo, por apresentar fraqueza).
Catastrofização: Pode ser considerada como um Método de Enfrentamento de Mal Adaptação, mas dado sua frequência, é considerada separadamente. A pessoa com Dor Crônica passa a desenvolver pensamentos extremamente negativos de modo que até problemas pequenos se tornam grandes catástrofes. Estudos mostraram que pacientes com este padrão de resposta reportam dores de intensidade maiores que aqueles que apresentam outras formas de enfrentamento, sendo inclusive um preditor de alterações funcionais relacionadas ao problema.
Nível de Aceitação de Dor: Indivíduos com Dor Crônica tendem a ter níveis menores de aceitação a dor, independente da resiliência para outros fatores do cotidiano. Esta diminuição do nível de aceitação da dor leva a maior tendência de parar ou evitar atividades para controlar a dor, o que aumenta o quadro de perda funcional, depressão e ansiedade.
É por estas características que a avaliação e tratamento da Dor Crônica deve ser multidisciplinar, tentando quebrar todo o ciclo de dor, envolvendo medidas farmacológicas (analgésicos, moduladores de dor, ansiolíticos, antidepressivos e as vezes até indutores do sono) e medidas não farmacológicas (exercícios físicos, psicologia, fisioterapia, acupuntura e diversas outras terapias de reabilitação). Negligenciar aspectos psicológicos de qualquer condição clínica, incluindo a dor, é negligenciar formas de tratamento eficazes que podem trazer grande alívio físico e mental para aquele que padece por tanto tempo com o desconforto, a insegurança e a incerteza.