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Melatonina e o Mito da Panacéia para o Sono

A Melatonina é uma substância produzida e armazenada pelo nosso organismo em uma região do Cérebro chamada “Glândula Pineal”. Essa região consegue liberar a Melatonina na dependência da quantidade de luz percebida pelos olhos, de modo que a diminuição do estímulo luminoso inicia a sua secreção na corrente sanguínea.

Devido a liberação mediada por luminosidade, a diferença na concentração de Melatonina no sangue pode variar em mais de 10 vezes se compararmos dia e noite, seguindo o Ciclo Circadiano (ritmo regulado pelo ciclo de 24 horas do nosso organismo – popularmente conhecido como “relógio biológico”) e sendo capaz de auxiliar no sono.

Por ter um bom perfil de segurança, tem sido bastante utilizada por várias pessoas como um “suplemento”, mas é muito importante frisar que a Melatonina não funciona para todas as pessoas e não funciona para todos os problemas de sono.

No início da década de 80, os primeiros estudos com suplementação com Melatonina foram feitos em ratos e seres humanos, e foi notado que a administração em horários fixos era capaz de ajustar o ciclo circadiano, permitindo o tratamento de doenças que afetam este ciclo, como em pessoas que possuem insônia por trabalharem de turno (das 19:00 às 07:00, por exemplo), naqueles que apresentam Jet Lag, quando há mudança de fuso horário por grandes viagens, ou em pacientes ínsones e cegos.

No entanto, a medida que a suplementação de Melatonina começou a ser utilizada, foi notado que algumas pessoas respondiam bem, já outros não obtinham qualquer resposta. Mais estudos foram realizados e se percebeu que algumas pessoas precisavam fazer uso mais precoce da medicação (uns mais cedo e outros mais tarde da noite), as vezes necessitando de exposição luminosa em horários específicos durante o dia (atuando de forma contrária ao efeito da Melatonina no período noturno), e que a resposta era dose dependente, mas com algumas pessoas precisando de doses maiores para fazer efeito semelhante ao do estudo inicial. Essas diferenças acontecem devido a como a Melatonina é absorvida ao ser ingerida como suplemento e a como ela consegue “sobreviver” no organismo após passar pelo fígado.

Posteriormente, foi notado que há uma diminuição da concentração de Melatonina a medida em que envelhecemos, levando a EMA (Agência Européia de Medicamentos) a aprovar o uso de Suplemento de Melatonina em pacientes com mais de 55 anos com Insônia Primária, também por regular o Ciclo Circadiano.

Estudos mais recentes testaram a Melatonina em diversos problemas do sono, mas seus resultados ficaram aquém do esperado. A despeito de sua eficácia, a melhora foi considerada “singela” como um indutor do sono, comparado a outras medidas não-farmacológicas (como higiene do sono) e farmacológicas (como uso de medicações indutoras do sono). Como manutensor do sono, também apresentou alguma eficácia, mas sem relevância estatística em alguns estudos. No quesito qualidade geral do sono, houve relatos de melhora, mas sem regularidade entre os estudos, com uns dizendo haver uma melhora maior que em outros.

Como nos EUA a Melatonina foi regulamentada como Suplemento, diferente de outros países que colocoram-na como Medicamento, passou-se a observar um aumento no uso indiscriminado, com aparecimento de efeitos adversos por aumento de até 60 vezes os valores considerados normais na concentração sanguínea. Em superdosagem, há relato de sonolência diurna, lentificação de raciocínio, declínio na performance física, diminuição da temperatura corporal (hipotermia) e aumento na produção de prolactina (hiperprolactinemia).

Por fim, a Melatonina atualmente possui apenas 2 indicações maiores para tratamento de insônia: Insônia relacionada ao envelhecimento (Insônia Primária do Idoso) e Alterações do Ciclo Circadiano, principalmente geradas por Trabalhos de Turno e Jet Lag, não funcionando para toda e qualquer insônia. A melhor forma de saber se a suplementação de Melatonina funciona para você é através de uma avaliação minuciosa por um especialista, que inclua uma análise de suas atividades do cotidiano e de seu padrão de sono.

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