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Convivendo com Epilepsia

Há vários anos, a Epilepsia era vista como uma doença que causava grande debilidade, com o paciente muitas vezes escondendo que apresentava crises convulsivas por medo de ser deslocado ou por não querer ser visto como alguém que “usava remédio controlado” ou sendo uma pessoa “sedada e lenta”.

Hoje ainda há muito preconceito acerca da doença, com algumas localidades tratando o paciente epiléptico semelhante ao descrito acima, mas a realidade é outra. Muitas pessoas com epilepsia convivem em sociedade sem sequer que outras pessoas percebam qualquer tipo de alteração em quem faz uso de medicação, com bom controle de crises em várias ocasiões, a depender do tipo de Epilepsia que o paciente apresenta.

Antigamente a medicina possuía um leque muito curto de opções terapêuticas, normalmente com efeitos colaterais sedativos importantes e com remédios que necessitavam de várias tomadas diárias. Atualmente é possível que o paciente tome apenas poucos comprimidos ao dia obtendo bom controle e sem quaisquer alterações cognitivas ou de velocidade de raciocínio.

O maior entrave que pessoas com Epilepsia ainda enfrentam está no preconceito. É sabido que muitos têm dificuldade de conseguir um emprego, por receio do empregador do indivíduo ter uma crise convulsiva em seu estabelecimento, ou mesmo por alguns acreditarem que a pessoa com Epilepsia é “menos capaz” que aquele sem a condição clínica. No entanto, em nada se relacionam estas características, haja vista que a maioria das pessoas com Epilepsia apresenta capacidade cognitiva, que inclui memória, aprendizado e atenção, semelhante àqueles sem a patologia.

Alguns exemplos de pessoas que alcançaram grandes conquistas e que tem / tinham Epilepsia:

  • Machado de Assis: Um dos maiores escritores da história brasileira, sabe-se que Machado de Assis apresentou os primeiros episódios de crise convulsiva na infância, tendo obtido remissão na adolescência, porém com retorno das crises a partir da 3ª década de vida, tornando-se mais frequentes. Isto não o impediu de ser um dos maiores escritores, ser capaz de aprender francês, inglês e alemão e conseguir estrear na literatura aos 15 anos de idade com seu primeiro conto.
  • Fyodor Dostoiésvski: Outro escritor, este russo, novamente um dos mais importantes do seu país, também apresentava crises convulsivas. Iniciando-se na adolescência e mantendo episódios ao longo de toda sua vida. Pouco se sabe sobre o padrão de Epilepsia que apresentava, mas ele escreveu em suas obras relatos de auras de crise que, em se pensando basear-se nas suas, poderia ser uma Epilepsia de Lobo Temporal. A epilepsia não o impediu de escrever nem de ingressar na Escola Militar de Engenharia, apesar de tê-lo feito contra a própria vontade.
  • Danny Glover: O ator e diretor americano foi diagnosticado aos 15 anos com epilepsia, tendo apresentado última crise por volta de seus 35 anos. Foi ator principal em “A Cor Púrpura” e participou de filmes de ação como “Predador 2” e da série “Máquina Mortífera”
  • Theodore Roosevelt: O 26º Presidente dos Estados Unidos enfrentou diversos problemas de saúde, entre eles a Epilepsia. À época não comentou sobre o assunto devido a estigmas da sociedade, mas isso não impediu de exercer sua função.
  • Prince: O cantor e compositor americano, ganhador de vários prêmios Grammy de música, apresentava crises convulsivas desde a infância. Devido o quadro, sofreu durante a infância e adolescência na escola e acabou usando o problema para se fortalecer, blindando-se do preconceito e usando isso para se tornar uma pessoa melhor. Inclusive compôs uma música sobre sua condição, “The Sacrifice of Victor“.

Portanto, não desanime por conta da sua condição clínica. Sua capacidade não pode, nem deve, ser medida por esse fator isolado, independente se há a necessidade de tomada de remédio ou não ou se as crises são “fortes” ou “fracas”. Hoje as possibilidades são melhores que um dia foram, e o futuro permitirá condições ainda melhores para auxiliar a conviver com o quadro. Porém, reforço, não permita ser “diminuído” à “condição de epiléptico”, quem tem Epilepsia tem capacidade de ter uma vida normal na grande maioria dos casos e este deve ser o enfoque para conviver com Epilepsia.

1 comentário em “Convivendo com Epilepsia”

  1. Que belo trabalho, Dr. Marcone. Ao longo da minha vida vi poucos casos de epilepsia. Hoje tem uma pessoa que trabalha na mesma empresa que eu. Presencie uma crise, nossa empresa que tem assistência médica cuidou dele. Até hoje ele está lá, é um bom profissional. Parabéns !

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