Parece bastante lógico que, quanto mais usamos nosso intelecto e nosso corpo a fim de crescermos pessoalmente, menores são as chances de apresentarmos alterações cognitivas a medida que envelhecemos. Mas o interessante é entender esta associação.
Em Junho de 2020, Oveisgharan e colaboradores (et. al.) publicaram um artigo no JAMA Neurology (Journal of the American Medical Association) exatamente sobre o assunto: “Associação entre Enriquecimento Cognitivo no Início da Vida e Mudanças Patológicas da Doença de Alzheimer e Declínio Cognitivo“.
O desenho do estudo é simples, porém bastante trabalhoso de se realizar. Os autores utilizaram pessoas que participaram do “Rush Memory and Aging Project” e acompanharam 2044 pessoas por uma média de 07 anos (com desvio padrão de +- 3,8 anos) antes de falecerem, realizando testes cognitivos anuais com avaliação clínica associada. Os pacientes foram acompanhados de 1º de Janeiro de 1997 a 30 de Junho de 2019. Destes, 1018 faleceram e uma avaliação pós-morte foi realizada em 813 participantes, sendo este último número o utilizado para pormenorização do quadro patológico, com avaliação do Cérebro em microscópio em busca de alterações típicas de Doença de Alzheimer e outras demências.
Os autores utilizaram quatro parâmetros que identificaram como “Enriquecimento Cognitivo no Início da Vida” (ECIV):
- Status socioeconômico no início da vida;
- Acesso a estímulos cognitivos aos 12 anos de idade;
- Frequência de participação em atividades que estimulam a cognição e
- Aprendizado de um novo idioma no início da vida.
Dos 813 participantes inclusos, a média de idade de falecimento foi de 90,1 anos (com desvio padrão de +- 6,3 anos) e 562 (69%) eram mulheres. Utilizando dados estatísticos controlados para idade do falecimento, gênero e nível educacional, conseguiram provar que um nível maior de ECIV fazia com que o Cérebro tivesse menos alterações patológicas esperadas na Doença de Alzheimer, mas não para outras demências. Além de apresentar menos alterações patológicas no Cérebro, quem possuía maior ECIV teve menos declínio cognitivo nos testes realizados enquanto o indivíduo estava vivo.
O estudo conseguiu provar com significância clínica e estatística (índice p de 0.01) que um início de vida com ambiente estimulador está associado a menor declínio cognitivo e menos alterações patológicas da Doença de Alzheimer no Cérebro.