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Crises convulsivas e a importância da investigação

Ninguém quer ter qualquer tipo de comorbidade ou evento adverso em sua vida, seja ele de saúde ou não. O que todos queremos é viver com saúde e qualidade de vida. Isso é lógico, perfeitamente racional, porém ninguém está imune a ter algum problema durante seu curso natural de vida.

Imagine-se na situação: Você está andando calmamente pela rua e se depara com uma pessoa desconhecida que subitamente cai ao solo e começa a apresentar movimentos involuntários, como se estivesse se debatendo. Você chega perto para tentar ajudar e percebe que a pessoa não responde aos seus chamados, continua com movimentos ininterruptos, abruptos, de forte contração dos braços e pernas, tendo ainda um excesso de salivação (sialorréia) que escorre pela boca; ao olhar as pernas do paciente, ainda se movimentando fortemente, percebe que há um uma mancha na roupa e um forte cheiro de urina.

Parece uma situação que nunca acontecerá com ninguém ao nosso redor, algo saído diretamente de um filme ou série, mas infelizmente é mais comum que imaginamos. A prevalência de pessoas com Epilepsia Ativa (quantidade de pessoas que possuem o diagnóstico de Epilepsia e apresentou no último ano pelo menos uma crise convulsiva) nos Estados Unidos encontra-se em torno de 1,2% (dado retirado do site do Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos no momento da edição deste artigo). Esse dado é apenas para pessoas com diagnóstico de Epilepsia, e é sabido que em países de menor renda per capita esse número é maior.

Vamos além, não só a Epilepsia causa Crises Convulsivas. Mas antes precisamos saber qual a diferença entre elas:

  • Crise Convulsiva: É uma alteração clínica em que há ativação elétrica cerebral anormal (exacerbada), levando o indivíduo a apresentar várias atitudes involuntárias, sendo as mais comuns:
    • (1) perda de consciência;
    • (2) movimentação dos membros – normalmente com contrações abruptas dos braços e pernas;
    • (3) perda do controle de esfíncteres – com perda de urina e/ou fezes e
    • (4) excesso de salivação.
  • Epilepsia: Condição clínica que predispõe o indivíduo a maior chance de apresentar Crises Convulsivas, seja por aumentar a atividade elétrica cerebral anormalmente ou por diminuir os processos de controle adequado da atividade elétrica cerebral.

Retorno, então, ao parágrafo anterior, com intuito de deixar bem claro que não só a Epilepsia causa Crises Convulsivas. E este é um ponto chave no que tange à abordagem inicial de uma pessoa que tenha apresentado uma Crise Convulsiva, já que existe a condição chamada de Crise Convulsiva Provocada, também conhecida como Crise Convulsiva Sintomática.

Ainda existe em nosso meio muita crendice acerca de “ter Epilepsia / ser Epilético”. Se a pessoa tem Diabetes e faz uso de medicação para controle do açúcar, ela está diante de uma possibilidade maior de ter Crise Convulsiva e NÃO ser Epilético, já que uma das causas mais comuns de Crise Convulsiva Provocada é a baixa quantidade de açúcar no sangue (Hipoglicemia). Logo após bater a cabeça (Traumatismo Cranioencefálico – TCE) existe a possibilidade de evolução com Crise Convulsiva. Existem diversas medicações que podem aumentar o risco de o paciente apresentar Crise Convulsiva, já outras que a retirada de modo inadequado também pode aumentar risco de evolução com Crise Convulsiva. Alterações no Sódio do Sangue ou da Função Renal também podem cursar com Crises Convulsivas. Ingesta excessiva de álcool pode causar Crise Convulsiva. Ficar muito tempo sem dormir também aumenta a chance de ter Crise Convulsiva. A quantidade de causas de Crise Convulsiva sintomática é bastante grande, de modo que o diagnóstico de Epilepsia deve ser sempre realizado após investigação pormenorizada de possíveis deflagradores de crise.

A intenção deste texto é tentar esclarecer algo que deveria ser tão lógico quanto a vontade que todos temos de alcançar saúde e qualidade de vida: Sem investigação pormenorizada, com história clínica adequada e exames complementares quando necessário, não é possível cravar de modo inequívoco que uma pessoa tem Epilepsia após a primeira crise convulsiva ou que, na realidade, apresentou uma Crise Convulsiva Provocada.